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             PORTAL DA MEMÓRIA: 
           A poética construtiva
de
        Jorge dos Anjos na paisagem 
                      da cidade


     Criada para proteger a imagem de Iemanjá na Lagoa da Pampulha,  escultura de ferro traz reflexões sobre patrimônio, diáspora, 
religiosidade, liberdade e formação social.

    Desde que foi implantada na orla da Lagoa da Pampulha em 1982, a imagem de Iemanjá vinha sofrendo contínuas depredações ao longo dos anos. Em 2007, o "Portal da Memória", obra do artista mineiro Jorge dos Anjos, resolveu o problema, ao proteger com uma moldura de ferro a escultura de Iemanjá, ao mesmo tempo em que abriu uma multiplicidade de reflexões sobre a história da cultura de raízes africanas que permeiam a formação de toda a capital mineira. Em uma homenagem a esse processo e à trajetória do importante artista ouro-pretano, foi lançado em junho de 2023, o livro Portal da Memória: A poética construtiva de Jorge dos Anjos na paisagem da cidade. 
   Jorge dos Anjos tem muitas obras que reverenciam a cultura afro-brasileira e conversam com os espaços públicos de Belo Horizonte. Mas certamente "Portal da Memória" pode ser considerado a sua criação mais emblemática na cidade. 
   Criada para ser o cartão postal da modernidade de Belo Horizonte na década de 1940, com obras de Oscar Niemeyer e jardins de Burle Marx, a orla da Lagoa da Pampulha, cercada pela Casa do Baile e pelo Iate Tênis Clube, durante muito tempo se manteve como espaço restrito à elite e, consequentemente, negado às pessoas pretas. 
   Nesse sentido, o "Portal da Memória" foi criado como uma espécie de reparação histórica simbólica e uma lembrança viva aos visitantes de que a cidade e suas belezas não estão determinadas pelo estereótipo burguês do homem branco, ao contrário, são essencialmente resultado da multiplicidade de seu povo, incluindo uma população escravizada por mais de três séculos da história e empurrada para a margem das periferias brasileiras na chamada “modernidade democrática”.
   É contra o apagamento do passado da população preta e o silenciamento contemporâneo das raízes afro-brasileiras que a obra de Jorge dos Anjos ganha força e sentido concreto. 
   “O 'Portal da Memória' é uma das esculturas mais significativas que tenho em BH, em um lugar importante, a Lagoa da Pampulha, em diálogo essencial com a água. Na África, antes de entrar no navio negreiro, costumavam vedar os escravos e andavam em círculo com eles envolta de uma árvore, que era chamada árvore do esquecimento. Nesse sentido, nessa obra, a água é memória. É como se, ao atravessar o portal, você fosse se lembrando da sua história, sua existência, é uma maneira simbólica de afirmar isso”, explica o artista. 
   “Desenvolvo meu trabalho pensando nas raízes africanas. E sei que a minha arte, a escultura, acaba sendo consumida por pessoas mais ricas. Por isso, é importante a obra estar em um espaço público, de acesso a todos. Acredito que o lugar público é a vocação da escultura”, complementa Jorge.


           Sobre o livro

    O livro sobre a obra de Jorge dos Anjos resulta da pesquisa desenvolvida por Maria Tereza Dantas Moura, conservadora-restauradora e mestre em Patrimônio Cultural pela UFMG, e Rita Lages Rodrigues, historiadora e professora de História e Teoria da Arte da Escola de Belas Artes da UFMG. “Na iniciação científica, a professora Rita Lages me pediu para escolher um monumento urbano para pesquisar e não tive dúvida de que seria o 'Portal da Memória'. A escolha não se deu só pela beleza da escultura, das linhas construtivistas, da geometria sensível, mas pelos múltiplos significados que a obra apresenta para a comunidade e das possibilidades de desenvolvimento da pesquisa na área da preservação do patrimônio”, afirma Maria Tereza Dantas Moura. 
   A pesquisadora conta que a ideia do livro surgiu como um desdobramento da pesquisa, que foi avolumando textos reflexivos sobre as temáticas que atravessam a escultura do artista plástico mineiro. "Quando vimos a quantidade de artigos que escrevemos sobre a temática, resolvemos apresentar o projeto do livro à LMIC. O Jorge recebeu muito bem a iniciativa, fez as ilustrações e concedeu uma entrevista para a publicação. Convidamos o Flávio Vignoli, que já havia trabalhado com o Jorge no projeto 'Aya Árvore da Vida', no Centro de Referência das Juventudes, para fazer o projeto gráfico”, relembra.
   Assim, a publicação reúne textos que surgem da robustez da pesquisa acadêmica sobre "Portal da Memória", mas que parecem convidar o leitor, com linguagem fluida e acessível, a uma boa prosa sobre o patrimônio cultural, a paisagem cotidiana, as diferenças sociais na formação da cidade e a representatividade de Iemanjá dentro de um Brasil majoritariamente negro. 
   “O trabalho ainda é delineado pela arte de Jorge dos Anjos e pelos distintos significados que ele alcança com suas esculturas, além de trazer uma qualidade estética muito forte e diversas fotos em preto e branco que costuram os textos. Ficamos muito satisfeitas com o resultado”, finaliza Maria Tereza.

      

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